Foto: Pablo Bernardo / Indie Belo Horizonte
Vivemos a era em que o capitalismo começa a, de fato, sofrer com seus próprios efeitos, e que, ao mesmo tempo, demonstra sua enorme capacidade de se reorganizar a partir de novos quadros econômicos, políticos e culturais. Essa parece ser a era de
falsas democracias e ditaduras declaradas convivendo “harmoniosamente”, a
partir de interesses financeiros, corporativos e políticos. Todo esse contexto
gera um constante questionamento: qual dessas opções é a menos hipócrita?
Mudanças de governos, chefes de Estado, partidos, missões de paz, países contra
países, tratados econômicos, povos contra povos e algo não muda. Aqueles que mandam permanecem sempre os mesmos, e o
que muda parece ser somente a forma de articulação para que a ordem permaneça a
mesma.
Essa realidade refletida de maneira local trouxe a cidade de Belo Horizonte, principalmente as Juventudes, a um momento impar de inquietação, movimentação e posicionamento. Neste sentido vemos uma diversidade de visões e, portanto, de formas de se posicionar. Em vésperas de eleição toda essa carga parece emergir com mais potência,eclodindo em uma diversidade complexa, que não é nada mais que o espelho do
gigantesco emaranhado que está acima desta realidade local, bem como da própria
complexidade dessa realidade “micro”.
E em meio a toda essa efervescência, desde 24 de Agosto de 2007 acontece o Duelo de MCs, que se caracteriza como um encontro da cultura Hip Hop, que é realizado semanalmente, às sextas-feiras, a partir das 21H, no viaduto Santa Tereza, centro de Belo Horizonte. Enquanto encontro cultural independente e autônomo, realizado por um
coletivo que preza por esses princípios, o Duelo de MCs não serve ou atende a
nenhum interesse empresarial, político-partidário ou de grupos da sociedade
civil que buscam utilizar a imagem e as conquistas do encontro a seu favor.
Porém, devido ao ano eleitoral, vemos um grande movimento dos principais
candidatos à Prefeitura de nossa cidade em direção ao Duelo de MCs. Nas últimas
semanas, potencializado pelos 5 anos de Duelo de MCs e pelo Duelo de MCs
Nacional, realizado no último dia 26 de agosto, foram produzidos dois vídeos
que usam o encontro de Hip Hop, realizado pela Família de Rua, como mote de
campanha dos principais concorrentes à Prefeitura de Belo Horizonte.
O Coletivo Família de Rua deixa claro que não apoia e não faz campanha para nenhum candidato à Prefeitura ou qualquer outro cargo. Somos um coletivo que preza pela independência político-partidária e pela resistência por meio da articulação entre seus
pares. Buscamos entender o cenário político da cidade, mas entendemos também as
questões suprapartidárias e de coligações, favores e patrocínios, que tornam
todas, ou pelo menos a grande maioria dessas campanhas, comprometidas com
interesses dos quais não comungamos. Sendo assim, NÃO APOIAMOS CADIDATO ALGUM
que tenha feito do Duelo de MCs mote de campanha.
O texto utilizado na narrativa de um desses vídeos, o produzido pelo movimento/site “Pulsar BH”, é uma reprodução do material criado pela Família de Rua para a divulgação do Duelo de MCs Nacional. Em momento algum a Família de Rua foi consultada e/ou, sequer, recebeu créditos pela apropriação do texto. Durante a produção desse vídeo no Duelo de MCs e no Duelo de MCs Nacional algumas pessoas também foram,de maneira extremamente desonesta, enganadas. O MC Mário “Hot” Apocalypse, de
BH, ao questionar as pessoas que estavam produzindo o vídeo durante o Duelo de
Mcs Nacional acerca da origem daquela cobertura, foi informado que se tratava
de um vídeo para trabalho universitário.
No vídeo ainda é veiculada uma informação falsa e tendenciosa, que afirma um apoio financeiro por parte da Prefeitura de Belo Horizonte para a realização do Duelo de MCs
Nacional. O projeto foi viabilizado através da Lei Municipal de Incentivo à
Cultura de BH, com Patrocínio da “AeC – Relacionamento com responsabilidade”,
que é uma empresa privada.
A Família de Rua é um coletivo focado na promoção do Hip Hop, do Skate e das culturas urbanas, que através do dialogo e da articulação em rede, principalmente com outros
coletivos da juventude, busca gerar cidadania, profissionalização e ocupação da
cidade. Nossa crença é nos coletivos independentes, nas pessoas, na cultura e
na arte. Devido a diversos fatores, alguns já citados nesse texto, não
acreditamos nas articulações político-partidárias. Acreditamos na política
orgânica e independente que as juventudes alimentam na sua ocupação e vivencia
na cidade. Vale ressaltar ainda que, independente de quem estiver ocupando a Prefeitura
e a Câmara dos Vereadores, continuaremos articulando, dialogando e cobrando os
nossos direitos de cidadãos e cidadãs.
Família de Rua